sábado, 27 de fevereiro de 2010

Exortação




Guarda o sorriso
Que teu rosto enfeita,
Guarda as sutis formas
Das brancas geleiras
Por entre os lábios
De primavera.

Guarda a promessa
Que teu olhar sustenta;
O prosear mudo
Que reinventa
Nos olhos alheios
A saudade.

Guarda a alegria
Que em ti abrigas,
Voa lépido,
Além do tempo,
Renascendo igual
Todos os dias.

Shirley Carreira

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O segredo




Se eu não puder
Retirar da carne
O véu que me guarda,
Calarei para sempre
O teu nome.

Se eu não puder
Resgatar no peito
O amor que me invade,
Silenciarei para sempre
A minha voz.

Se eu não puder
Pousar em teu corpo
O olhar que guardo,
Fenecerei para sempre
E teu nome comigo.

Shirley Carreira

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A casa


Esta casa que nunca adentraste,
Cujas paredes nunca tocaste,
Guarda surpresas incontáveis
E prazeres inomináveis.

Em seus espaços contidos
Teus desejos encontrariam
Realizações e sorririam
Para sempre agradecidos.

Além da bela fachada,
Dela conheces nada.
Para além de sua entrada,
Quimeras, sim, ela guarda.

Ainda que revestida
Assim, de pura pedra polida,
Deve ser mais que contemplada.
Foi feita pra ser percorrida.

Shirley Carreira

Distância



Sinto-te sombra
Sinto-te vento
Estrela longínqua
No firmamento

Sinto-te música
Tocada ao longe
Sinto-te sol
Que a noite esconde.

Sinto-te verso
Ainda incompleto
Sinto-te fluido
Tão longe, tão perto.


Shirley Carreira

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O eu e seu duplo



Este eu que, timidamente,
Obscureço,
Travestido de formas e forças,
Que não são minhas,
Em outro ser que crio
E desconheço,
É frágil, inseguro, carente
E ante o infortúnio premente
Encolhe-se, para que seu duplo
Ousado surja
E tome-lhe a frente.

Nas noites mínimas
Em que me pertenço,
Couraça inerte, sono adentro,
Meu eu escapa por um momento
E te sonha envolto
Em beijo e brumas.
Desejo satisfeito
Em meu pensamento,
Cedo lugar ao outro eu que me habita.
Enquanto no sono, ele se agita,
Tornas-te estrela no firmamento.

Shirley Carreira