sábado, 26 de março de 2011

Fazer poético

Não escrevo o poema.

Ele, de mim, se apropria,

Em minha pele se instala

E se alastra; se propaga,

Da alma tomando posse.

Quem dera poeta eu fosse.


Não luto com palavras.

Elas me invadem, insidiosas,

E me corroem, destemperadas,

E me seduzem, despudoradas;

Em minha voz se insinuam.

Quem dera se as dominasse.


O poema me vem como onda

A trucidar rochedos que me habitam

A preencher abismos de silêncio

E quando se concretiza na palavra

Já não sou mais aquele que fala;

Senão uma outra voz que surge

Enquanto a minha se cala.


Shirley Carreira

sexta-feira, 25 de março de 2011

Em pensamento

De meu corpo, guarda a lembrança;

Dos muitos beijos e carícias;

Do amor intenso, as primícias;

Da paixão vertiginosa, a ânsia.

Da minha saudade, toma posse

E leva contigo meu pensamento;

E os meus desejos ainda vivos,

Que, a cada dia, eu reinvento.

Guarda cada olhar um dia trocado,

Cada gesto de carinho e ternura;

A liberdade de amar e ser amado;

O desvario, a doce loucura.


Shirley Carreira

sexta-feira, 11 de março de 2011

Noite

Por mundos ignotos
Meu pensamento voa
E a pena sibila
Sobre o papel do firmamento,
Registro indelével
Do momento
Em que a imagem surge
A impressão se cristaliza
E a emoção fica presa
Na imensa escuridão
Coberta de estrelas.


Shirley Carreira