domingo, 26 de maio de 2013

Imperativos

Não me faças querer-te
Mais do que te quero
Ou desejar-te além
Do que desejo e espero,
Porque nos olhos trago
Promessas infinitas
Que só promessas são
E o que neles fitas
Só devaneio e ilusão.

Não me faças falar-te
Do que a mente transpassa
Como flecha certeira,
Que a invade e devassa,
Pois seu trajeto é incerto,
Sinuosa corredeira
Que arrasta violenta
O teu corpo desperto
E o meu desejo inquieto.

Não me faças assim lutar
Com palavras, pensamentos,
Vasto é o léxico, vão o momento.

©Shirley Carreira



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Da permanência das palavras

Quando dos gestos
Já não houver traço
E os sonhos forem
Lançados ao infinito;
Quando do olhar
Já não houver rastro,
Ficarão as palavras
Sussurradas ao ouvido,
E sua lavra no corpo
Há de fazer mais sentido
Que a lembrança do toque
Há muito perdido.

Shirley Carreira


sábado, 11 de maio de 2013

Menestrel


Canta para mim
Uma canção bela
Que fale de horizontes
Muito além dos sonhos;
que fale de estradas
muito além do alcance
do olhar, e nelas
derrama, feito aquarela,
cada desejo, meu e teu.

Canta para mim,
Murmura ao meu ouvido
Sons, palavras,
qualquer verbo proibido ,
que na tua voz
será apenas o gemido
insidioso dos sentidos
que na pele aflora,
lavra e nos devora.

Canta e risca
Com brilho de estrelas
O breu completo e intenso
Deste nosso sentir
Em silêncio.


Shirley Carreira


domingo, 5 de maio de 2013

Alguns dias

Dias há
Em que amanheço brisa
Suave, leve, viração.
Outros há
Em que surjo intensa
Tornado, vento, furacão.
E quando me derramo inteira
E verto lavas como vulcão
Sou sempre a mulher primeira:
Insídia, encanto, sedução.
Em gestos e sons
Teço a teia
Irrecusável prisão.

Shirley Carreira




sexta-feira, 3 de maio de 2013

Transição


Passam os dias,
Mudam as criaturas,
Ficam os versos,
Os laços de ternura.
Vai-se a magia—
Sei que não perdura—
Fica a saudade
Permanente, pura.

©Shirley Carreira