Um dia Há de brotar das mãos Fluida poesia Embriagada de música Da simetria Exalada da alma Que se inebria Do ópio avassalador Da densa loucura Que se chama amor.
Sou um mosaico de muitas mulheres Das tantas que habitam em mim: Sou meio adulta, meio criança, Meio descrédito, meio esperança, Meio inocente, meio sagaz, Meio sensual, meio angelical. De todas as metades que me compõem Nenhuma prevalece afinal.
De cada palavra Que me surge Como se fosse lágrima Faço um segredo De cada palavra Que me surge Como se fosse medo Faço uma guerra De cada palavra Que me surge Como se fosse fera Faço um encanto De cada palavra Que me surge Como fosse pranto Faço silêncio.
Nessa tua carne Habitam solitários O sopro e o assombro Do gesto omitido A sépia e a seiva De primavera enrustida O aguardar lancinante Do degelo. Nessa tua carne Residem incógnitos A chama e a cinza Do desejo elíptico O rasgo e o sangue Do amor suprimido O sufocar constante De um eu mal contido.
Guardo no olhar o desvario Das madrugadas insones, Os abismos das paixões intensas, Os medos dos passos não dados. Trago na fronte os traços Dos desejos ocultos, Na pele, o frêmito, o arrepio, De conhecidos gestos. Guardo em mim mesma Promessa e desatino, Atalho e labirinto Poesia e desassossego.
Tecem-se os amanhãs Com os sonhos de hoje E os tropeços de ontem Costurando idéias E horizontes. Tecem-se os desejos Com os novos anseios E as velhas conquistas Urdindo gestos E paixões. Ainda assim, na malha do tempo O amanhã é apenas incógnita.
As estradas do teu corpo Tantas vezes percorridas São as tramas do meu verso Dessa emoção contida Que grito ao universo Na discreta melodia Feita de sonho e palavras Que se chama poesia.