sexta-feira, 3 de maio de 2013

Transição


Passam os dias,
Mudam as criaturas,
Ficam os versos,
Os laços de ternura.
Vai-se a magia—
Sei que não perdura—
Fica a saudade
Permanente, pura.

©Shirley Carreira


sábado, 27 de abril de 2013

Diálogo


Nossos olhares
Dialogam esquecidos
De um mundo tecido
Com palavras.
O que meus olhos te pedem
Os teus adivinham.

Não te falo de amor
Porque teu corpo
Tateia, nos meandros
Do silêncio,
Cada toque
Mudamente ensaiado.

E antes que te revele
Meu mais recôndito desejo
Olha-me uma vez mais
E cala-me com um beijo.

Shirley Carreira




domingo, 14 de abril de 2013

Interpretação



A palavra é minha matéria,
Nela me inscrevo (e te escrevo),
Nela me oculto e desvendo
Porções do meu eu e do teu.
Traduzo em vão teus gestos:
Por desconhecer teus pensamentos,
Mergulho nas lacunas, no não dito.
Interpreto o que quero,
Admito.
Escrevo e, no íntimo, desejo
Que as palavras vão ao vento;
Que fique um gesto eloquente
Que as suplante em sentido
E te explique, simplesmente.

Shirley Carreira

sexta-feira, 29 de março de 2013

Se...



Se não te puder dar
o firmamento
dar-te-ei a lua;
forjada a sonho e fogo
mas tua.
Se não puder te dar o ouro
que ilumina o dia,
dar-te-ei o brilho
de estrelas fugidias
e meus braços,
que em um abraço
denso, acalentam
toda a tua fantasia.

Shirley Carreira


Noitedia



A noite gesta meu sonho
em ninho enluarado,
alimenta desejos,
nutre vontades
que esperam o dia
em pura ansiedade.
Que o sol traga
o fruto ensandecido
do ousado sonho
em penumbra
tecido.

Shirley Carreira


terça-feira, 12 de março de 2013

Ousadia


Não queira me amar
Com o amor morno
De manhãs que nascem
Escondidas;
Ame-me com a ousadia
Das madrugadas
Que se querem longas
E recusam o amanhecer.
Não ouse querer-me
Com gestos comedidos
De quem pede licença;
Quero os arroubos
E a vontade imperiosa
De quem não tem limites.
Não ouse me amar
Com olhos tristes e sofridos
Como quem parte e se perde.
Quero a alegria de quem fica
E, sabendo por que fica,
Permanece.

Shirley Carreira©


domingo, 10 de março de 2013

Do amor e seus mistérios



Que tolo aquele que pensa
Do amor conhecer as estradas
Os becos de surpresa tecidos
As confusas encruzilhadas.
                                       
Nada se sabe daquilo
Que de corpo e alma se apossa
Senão o tanto que tê-lo
A vida suaviza e adoça.

E muitos no afã de buscá-lo
Não lhe sentem a tênue presença
Dele se esquivam, quando perto,
E se lamentam em sua ausência.

Vestido de ardor e desejo
Ora se consome e se apaga;
Terno, suave e cauteloso
Ora cresce e se propaga.
Se nada dele sabemos,
Origem, razão ou estada,
A ele nos entregamos
Em busca desvairada.

E quando acontece de tê-lo
Ouve-se murmúrio de estrelas,
Ainda  que, de olhos fechados,
Não se possa sequer vê-las.

Shirley Carreira©










sábado, 9 de março de 2013

Aquarela



Não me posso conceder asas,
mas na pena risco e arrisco o voo,
e ajusto nas transparências
do cotidiano as cores
com que, na imaginação,
pinto o mundo.
Em cada traço
um passo se firma:
vista aérea da vida
em aquarela.

Shirley Carreira

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sou uma ilha...


Sou uma ilha:
absoluta, inexpugnável, perdida
em um mar de pensamentos infindo;
varrida pelo turbilhão de vontades,
enevoada pelos sonhos eternos,
oculta pela muralha de mim...
quem me vê não me sabe
e se desconfia
não me adivinha.

Shirley Carreira





quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sem palavras





















Não canto meu amor por ti em versos,
Deixo que o façam os gestos
Que te acolhem em silêncio.
Não te faço elegias, nem canções:
No toque do meu corpo no teu
Há sinfonias em turbilhões.
Não necessito de palavras
Neste diálogo de olhares.
Aquilo que a língua lavra
Na seara dos sentidos
É tudo o que calo
E, ainda assim, falo,
em sussurros traduzido.

Shirley Carreira