sábado, 7 de novembro de 2009

Se eu me calar











Não te espantes se eu calar meu verso,
com meu silêncio não te surpreendas;
comigo mesma vivo em contendas.
Na poesia, reúno e disperso
todos os fragmentos de mim.
Se me calo, eu me preservo.

Não te espantes se eu não deixar rastro,
não te assustes com minha ausência,
pois, da palavra, a permanência
é retrato preciso de um mundo vasto
que trago dentro de mim.
Se me calo, eu me oculto.

Não te surpreendas se eu me calar,
se partir sem dizer adeus,
se este poema parece acenar
com lágrimas dos olhos meus,
cascata caudalosa a escorrer da alma.
Se me calo, ela se acalma.

Ficam os gestos apenas ensaiados,
ficam os poemas mal iniciados,
sombras líricas de algo concreto.
Ainda que não possas lê-las,
minhas palavras permanecem.
Na noite do meu silêncio,
elas se tornam estrelas.
* * * * * * * * * * * *
Shirley Carreira

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