terça-feira, 28 de setembro de 2010

Estranhamento

Onde se esconde
Esta minha palavra
Oculta nas sombras,
Fechada para o mundo?

Onde se oculta
Este meu pensamento
Guardado nas teias
De um tempo impreciso?

Onde guardei
Aqueles amores profundos
Tecidos em sonhos,
Em ouro bordados?

Onde teci e criei
Este ser que ora sou
Quieto, quase mudo,
Em penumbra traçado?

Onde palavra, pensamento,
Amores e eu,
Se o mundo em volta
É só estranhamento?

Shirley Carreira

domingo, 26 de setembro de 2010

Ao amor que permanece




Sejam minhas as mãos
Que percorrem caminhos
Que só a elas pertencem.
Sejam minhas as mãos
Que o façam por desejar
As trilhas conhecidas
E por nelas ver
Atalhos sempre novos
A desbravar.

Sejam meus, e para sempre,
Aqueles pensamentos
Que vão e vêm e da imagem,
Que é minha, fazem alento;
Que do meu rosto tecem
Mil encantos não fugidios
E paixões intensas
Que se sempre se recriam
E permanecem.

Que seja meu esse amor
Não volátil, não suspenso
Pelas tramas da incerteza;
Revestido pela doce
E infinita calmaria
De reconhecer-se inteiro
Naquele que se amou um dia,
E amá-lo ainda no presente
Fazendo do hoje, sempre.


Shirley Carreira

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Escrita


Para calar os gritos
Desta noite infinita,
Escrevo.

Passo a limpo a fita,
Carcomida e fria,
Dos meus medos.

Em cada imagem
Mergulho, absorta,
Em degredo,

E rasgo no papel
O sangue fumegante
Dos segredos.
Shirley Carreira

Poema para uma saudade

Para A.
Saudade surge súbita,
como réstia de sol na manhã,
como sal que arde na carne,
como lembrança que teima em voltar.

Saudade sempre se instala
quando o tempo perde o poder,
quando a imagem invade os olhos
e não permite esquecer.

Saudade sopra como vento
nas finas paredes do tempo
e planta em cada fresta
parte da história, a memória.

Shirley Carreira

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dia nascente



O dia fez nascer
Um poema quieto
Tecido em observação e silêncio.
Fez brotar palavras
Das rochas intransponíveis
Que se apossaram
Do coração dos homens.
O dia ensolarado
é forasteiro intrépido
Na escuridão
Da descrença humana,
E acena, lá fora,
Com a esperança,
E inquieta, cá dentro,
Qualquer fé dispersa.
O dia que nasce
Em seus raios espraia
A presença silenciosa
Porém constante
De Deus.

@Shirley Carreira