terça-feira, 27 de abril de 2010

Sobre a escrita da poesia

Nunca revisito um poema.
Ele lá fica, em estado puro,
Qual bebê nascituro.
Jamais, ainda que o possa,
O releio como um poeta.
Se bom, aplaudo com ardor,
Se mau, lamento-o, como leitor,

Mas jamais coloco um ponto
Que antes não existisse.
E este meu jeito, ou teimosia,
Meu modo de fazer poesia,
Ainda que insistente,
Desvia-se, inconsequente,
Daquilo que se crê ideal.

E minha inspiração, néscia,
Dá de ombros e ignora
Opinião alheia. Vai-se embora,
Deixando o poema que fiz
Inerte em sua matriz:
Sem revisão; à vontade;
Intacto, para a posteridade.

Shirley Carreira

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Para sempre


Teu nome calo no fundo da alma,
No silêncio da noite calma,
No cálice das paixões intensas,
Nas brumas das madrugadas densas,
Nas horas em que, às expensas
Do amor, tornas-te infinito.

Anônimo, vives no meu pensamento;
Sem nome, preenches cada momento,
E se eu te escondo da luz do dia,
Perpétuo te torno em poesia.

Shirley Carreira

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Da alegria e seus rastros

Já não sei falar de ausências,
De faltas falar já não me apraz,
Nem tampouco de aparências,
Nem das dores que a vida traz.

Destarte os sonhos hei de cantar,
Brotando d’ alma como luz ardente,
A graça do amor a transbordar
De um singelo poema nascente.

Hei de cantar o belo e a alegria,
Seu doce acorde transformar
Em verso, em fluida poesia,
Enquanto puder versejar.

E quando, por fim, se calar
A voz do poeta, e eu me for;
No céu de ébano há de brilhar
Um rastro de luz e amor.

Shirley Carreira

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A ordem das coisas




Que importa ao mundo
Se teu simples olhar
Acende em mim
Mil arrebóis;
Se teus sorrisos
Tem o alcance
De mil faróis.

Que importa ao mundo
Se por ti incandesço,
Ardo, queimo,
Enlouqueço;
Se a tua imagem
É para mim
Como voragem.

Que importa aos demais
Se, para mim,
És pura paisagem,
Sem que possa jamais,
De ti, o olhar desviar
Sem querer-te
‘inda muito mais.

Shirley Carreira