segunda-feira, 24 de maio de 2010

Este corpo




Este corpo em que silencio
Ardores, temores e cio
É chama que arde constante
E se eleva a cada instante;
E transbordam, em abismo
De infinito mutismo,
Os desejos em turbilhão,
Sede, fome, paixão.

Este corpo, que transcrevo
Em versos, tem o relevo
De terra por desbravar,
Em rimas faz-se revelar
E o ícone do seu segredo,
Do pensamento em degredo,
Em meu olhar jaz inscrito:
É este arder infinito.

Shirley Carreira

sábado, 8 de maio de 2010

Para minha mãe

Já não ouço o consolo da tua voz
Quando nem tudo vai bem comigo,
Já não posso ter naquele tom firme
Apoio, segurança e constante abrigo.

Já não vejo dos teus olhos o azul,
A gargalhada alegre, que, de norte a sul,
Anunciava a tua presença amiga
E confortava os meus dias como um sol.

Já não tenho o calor de teu abraço,
Já não ouço o acorde do teu sorriso,
Mas tenho ainda tudo o que preciso
Que é a tua eterna presença em mim.


Shirley Carreira

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Descoberta

Já não tenho aqueles olhos jovens
Aquelas retinas permeadas de poesia;
Já não tenho aqueles sonhos intrépidos.
A vida passou por mim e eu não sabia.


Já não sou o que a imagem acolhe;
O que expõe a fisionomia.
Há outra face sob o sorriso;
Há lembranças muitas, velhas fantasias.


Já não tenho a firmeza de gesto,
O ímpeto, a coragem, a ousadia,
O ardor intenso que imponho aos versos.
A vida passou por mim e eu não sabia.


E, na passagem, deixou-me tantas dores,
Tantos segredos, tanta nostalgia,
Que, hoje, mistérios descobertos,
Sou sombra e saudade do que fui um dia.

Shirley Carreira