sábado, 19 de novembro de 2011

Dia

O dia amanheceu cinzento,
brisas de preguiça afofando a cama,
incitando a lentidão dos gestos,
mas, lá fora, pulsa a vida...
há que acordar os planos
e despertar os sonhos.
O futuro é ágil e insone.

Shirley Carreira

domingo, 13 de novembro de 2011

Envelhecer

Faz parte do envelhecer
Construir olhares mais mansos
E gestos menos tensos
E almas maduramente puras,
Pois o duro aprendizado
Da vida se fez o bastante
Para que cada instante
Seja festa flamejante;
E que cada olhar de culpa
em perdão genuíno se torne
E os antigos desencontros,
Flagelos de outrora,
Sejam abraços, agora.
Envelhecer é reescrever
O passado vivido do avesso,
Com a tinta do futuro incerto.

Shirley Carreira

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Poema de vontades








Quero desvelar as palavras ocultas
sob a pele do efêmero
e urdir a trama de um poema.
Quero dar vida a pensamentos
gestados diuturnamente
em silêncio.
Quero avizinhar-me e, quem sabe,
desvendar os mistérios
desta outra que, discreta,
vive cá dentro de mim.

Shirley Carreira

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sobre a saudade

Quem conhece a voz da saudade,
que implode a noite em fagulhas
de lembrança pura,
sabe o que é trazer no peito
este sentimento que arde
e explode em pedaços
de ânsia e ternura.

Shirley Carreira

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Onde

Onde se encontram esperança e sonho
meu coração e minha alma eu ponho
e viajo nas asas amplas, fugidias,
que acolhem todas as minhas fantasias.

Onde descansas teu olhar ansioso,
deposito meu corpo, tenso, amoroso,
e permito que invadas cada espaço
e tua, a cada dia, novamente me faço.

Onde estiver o teu pensamento
estará o meu e cada momento
ao teu lado será como a primeira
alegria de uma vida inteira.

Shirley Carreira

sábado, 26 de março de 2011

Fazer poético

Não escrevo o poema.

Ele, de mim, se apropria,

Em minha pele se instala

E se alastra; se propaga,

Da alma tomando posse.

Quem dera poeta eu fosse.


Não luto com palavras.

Elas me invadem, insidiosas,

E me corroem, destemperadas,

E me seduzem, despudoradas;

Em minha voz se insinuam.

Quem dera se as dominasse.


O poema me vem como onda

A trucidar rochedos que me habitam

A preencher abismos de silêncio

E quando se concretiza na palavra

Já não sou mais aquele que fala;

Senão uma outra voz que surge

Enquanto a minha se cala.


Shirley Carreira

sexta-feira, 25 de março de 2011

Em pensamento

De meu corpo, guarda a lembrança;

Dos muitos beijos e carícias;

Do amor intenso, as primícias;

Da paixão vertiginosa, a ânsia.

Da minha saudade, toma posse

E leva contigo meu pensamento;

E os meus desejos ainda vivos,

Que, a cada dia, eu reinvento.

Guarda cada olhar um dia trocado,

Cada gesto de carinho e ternura;

A liberdade de amar e ser amado;

O desvario, a doce loucura.


Shirley Carreira

sexta-feira, 11 de março de 2011

Noite

Por mundos ignotos
Meu pensamento voa
E a pena sibila
Sobre o papel do firmamento,
Registro indelével
Do momento
Em que a imagem surge
A impressão se cristaliza
E a emoção fica presa
Na imensa escuridão
Coberta de estrelas.


Shirley Carreira

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Catarse

Eu e a poesia

Rondamos-nos

Noite e dia;

Enquanto eu expio

Ela me espia.

Shirley Carreira

Desencontro

Há de chegar o dia

Em que minha palavra

Não será este ruído

Sem eco.

Há de vir o momento

Em que os sons ouvidos

Produzirão

Sentido.

Há de vir o instante

Em que buscarão ouvir

E a boca

Estará selada

E a palavra,

Muda.

Shirley Carreira

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Memória

Sinto saudade do ser que fui

E que jamais tornarei a ser

Falta-me a graça, que se dilui

A cada novo amanhecer;

Falta-me a força e outro tanto

De alegria que, antes, eu tinha;

Resta-me só como acalanto

A lembrança, que se avizinha,

e traz de volta ao sol e à luz

instantes perfeitos e a glória

de tantos momentos de vitória,

de enlevo, de paixão qu’inda seduz

este ser quieto, soturno, sombrio,

mudo, inquisidor, arredio

que vive cá dentro de mim.


Shirley Carreira

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Apego



Quando te faço estrada

Metáfora e palavra

Dos caminhos de mim,

Traço-te linha sinuosa,

E a percorro, caprichosa,

Sem saber aonde me leva,

Seus desvios e fim.

Mas avanço,

Palavra solta,

e revolvo feito louca

todo o verbo/poeira

que em mim se entranha;

não sei se sonho, se manha,

se ímpeto ou teimosia,

tu segues e eu te sigo

vida afora, noite e dia.

Shirley Carreira

sábado, 1 de janeiro de 2011

2011

Neste novo ano, não vou fazer nenhuma promessa a mim mesma, nem tecer planos, nem traçar metas. Farei deste ano um ano ímpar, em todos os sentidos, pois aceitarei com alegria o que a vida me der, deixar-me-ei levar pelas ondas do futuro que desconheço, terei prazer nos pequenos momentos que me forem concedidos. Não há nada mais importante em um novo ano do que a alegria de estar viva, saudável e pronta para o que der e vier. Feliz 2011.