domingo, 30 de junho de 2013

Simbiose

Em teu corpo eu me tranço e os teus desejos amanso.
Direito e avesso, por inteiro te conheço, 
e se, de tão próxima, contigo me pareço,
 te traduzo em gestos e em versos
tanto mais densos quanto dispersos.
Se te percorro em agonia,
tu me desvelas com ousadia,
e nem sei mais onde terminas
e onde começo.


Shirley Carreira


domingo, 16 de junho de 2013

Bailado

Permita-me bailar em tuas fantasias
Com a suavidade e o encanto
De uma folha ao vento
Permita-me tocar o teu eu oculto
Que no teu silêncio
Percebo e ausculto.
Permita-me porque em traços
Teço aquarelas
Enquanto me enrosco
Em teu flanco,
E tranço luz e poesia
Em um mundo em preto e branco.
Permita-me porque danço
Em espiral, com ousadia,
Bailo no compasso
De estranhas melodias;
E se a dança por si só
Eterna não for
Há de ser o desvario
De um exercício de amor.


Shirley Carreira


domingo, 9 de junho de 2013

Da ausência

De tudo o que aprendi na vida
O mister de fato entendi,
Exceto esse meu desviar
Da falta que sinto de ti;
Esse constante apagar
Labaredas insistentes,
Que acendem ao teu olhar
Escondidas de toda gente;
Esse gritar inquieto
Dentro do peito que ouço
Quando me vem à mente
Do teu rosto o esboço.
Daquilo que não entendo
Quase sempre me desvio,
Como a água corrente
Das pedras dentro de um rio.
Por vezes, eu me ressinto
Da falta de algo e, assim,
Tu te tornas presente,
Lacuna cá dentro de mim.

Shirley Carreira


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Olhares

Quando me olhas assim
Ao largo,
Como quem nada
Sabe e quer
Meu corpo responde
Sedento
Pois ainda trago
Cá dentro
A chama que arde
Em segredo
Que teus olhos
Ladinos disfarçam
E os meus, em êxtase,
Abraçam,
Sem pejo, sem rumo,
Sem medo.


Shirley Carreira