Não escrevo o poema.
Ele, de mim, se apropria,
Em minha pele se instala
E se alastra; se propaga,
Da alma tomando posse.
Quem dera poeta eu fosse.
Não luto com palavras.
Elas me invadem, insidiosas,
E me corroem, destemperadas,
E me seduzem, despudoradas;
Em minha voz se insinuam.
Quem dera se as dominasse.
O poema me vem como onda
A trucidar rochedos que me habitam
A preencher abismos de silêncio
E quando se concretiza na palavra
Já não sou mais aquele que fala;
Senão uma outra voz que surge
Enquanto a minha se cala.
Shirley Carreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário