Quando me escondo de mim,
Tenho um semblante suave,
Uma plumagem de ave
Encantada com sua imagem.
Quando me escondo de mim,
Tenho uma fala macia
Que soa , ao raiar do dia,
Como canto de passarinho.
Quando me escondo de mim,
Trago nos lábios o rubor
Das grandes paixões e o sabor
Dos desejos juvenis.
Quando eu me escondo de mim,
Não tenho este olhar triste,
Nem este gesto agreste
De quem com a vida esgrima.
Quando me escondo, domo,
Na raiz, a palavra incerta
Que eclode e desperta
A vida, sem rumo ou rima.
Shirley Carreira
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